Imagem Google Ser Deiferente é Ser Normal |
Situações que envolvem a falta de esclarecimento.
MÚSICOS EXTRAORDINÁRIOS. Não pensem que todos os deficientes visuais têm dons artísticos e um incrível pendor musical. Muitos cegos são tão musicais quanto eu e você. É errôneo e preconceituoso supor que os cegos se dediquem somente a algumas profissões estereotipadas. Atualmente os deficientes visuais ocupam cargos de chefia, nos mais diversos setores, exercendo profissões as mais variadas, que exigem formação e treinamento. Não gesticule, indicando direções com o dedo: ali, lá etc. Estas orientações não têm nenhuma utilidade para os cegos. Diga por exemplo, “o cinzeiro está à sua frente, ao alcance da mão, ou o ponto do ônibus está a mais ou menos 15 metros, à sua direita”. Preste atenção ao indicar direções: tome como referencia a posição deles e não a sua. Nesse sentido, não deixe de oferecer auxilio a pessoa cega que esteja querendo atravessar a rua ou tomar condução, ofereça ao deficiente visual o maior número possível de informações, para que ele se localize e se oriente, sabendo exatamente o que está acontecendo. Por exemplo, não suponha que a pessoa cega possa localizar a porta onde deseja entrar ou lugar onde queira ir, contando passos. Em contra partida, não tenha constrangimento em receber ajuda, admitir colaboração ou aceitar gentileza por parte de alguma pessoa cega. Não faça com que o deficiente visual tenha que adivinhar com quem está falando. Ainda que você ache que ele tem uma excelente memória auditiva, nem sempre ele se lembrará de todas as vozes. Não permita que ele passe por esta situação embaraçosa: identifique-se sempre. Não deixe de apertar a mão de uma pessoa cega ao encontrá-la ou ao despedir-se dela, todas as vezes que você estiver conversando com um deficiente visual, avise-o quando tiver que se ausentar. Ele pode não perceber sua saída, pelo excesso de ruído no ambiente ou por distração, e ver-se na ridícula situação de ficar falando sozinho. Avise-o, também, quando retornar. Apresente-lhe e identifique sempre as pessoas que estejam participando de seu grupo. Se você encontrar uma pessoa cega tentando fazer compra sozinha em uma loja ou supermercado, ofereça-se para ajudá-la. Para ela é muito difícil saber a exata localização dos produtos, assim como escolher marcas e preços. Certamente ela agradecerá sua atenção e boa vontade; nunca deixe portas entreabertas onde haja alguma pessoa cega, mantenha-as sempre bem abertas ou bem fechadas. Portas entreabertas, gavetas mal fechadas, objetos atirados a esmo no chão, pisos engordurados e escorregadios, constituem-se em fonte de perigo, no caminho por onde transita um deficiente visual. Não pegue a pessoa cega pelos braços, girando-a para ajudá-la a sentar-se. Basta que você coloque sua mão no encosto da cadeira. Ela saberá, então, em que posição ela está e se sentará sem problemas. Mas não se esqueça: pergunte antes se ela deseja sentar-se. Se na sua classe houver um colega cego, não o “assuma”, fazendo tudo por ele e evitando ao máximo que ele se canse ou se machuque. A pessoa cega não deve ser de responsabilidade exclusiva sua, mas de toda a sociedade. E, principalmente, deve ser a responsável por ela mesma. Quando lhe oferecer uma bebida, mencione todas que há para escolher, para que ele possa optar. Entregue o copo diretamente em sua mão ou coloque-o em um lugar onde ele possa pegá-lo sem problemas. Nunca lhe ofereça uma bandeja cheia de copos; provavelmente ao retirar o seu, derrube algum outro. Ajam do mesmo modo ao oferecer-lhe doces, sanduíches etc. Às vezes, a pessoa cega não percebe manchas, rasgos ou qualquer desalinho em suas roupas ou sapatos. Não se constranja em adverti-la quanto a qualquer incorreção em seu vestuário. Não permita que esses incidentes provoquem comentários sobre sua pessoa. Se você trabalha com o público e tiver a oportunidade de atender a uma pessoa deficiente visual, fique atento às suas necessidades particulares. Provavelmente ela precisará que você descreva a mercadoria e os preços para ela. Não pense que a pessoa cega seja tão dependente a ponto de precisar que você lhe dê de comer, ou que tenha que ser orientada para encontrar a comida no prato. Ela pode falhar algumas vezes, mas se arranjará sozinha. Fique certo de que ela lhe agradecerá, se você descrever os alimentos servidos ou à posição dos mesmos colocados em seu prato. Se você encontrar uma pessoa usando uns óculos esquisitos, parecendo um binóculo de um lado só, não fique espantado, pensando que é uma criatura estranha. Acontece que algumas pessoas têm a visão muito reduzida; então, utilizam este recurso, que se chama tele-lupa, para poder ler ou para realizar tarefas que exijam o uso da visão. Quando você avistar um cego querendo atravessar a rua, não grite para ele avisando que pode fazê-lo. Ele pode não saber que é com ele que estão falando, pode ter medo de atravessar sozinho e, o que é pior, pode correr sérios riscos de ser atropelado por outro motorista desavisado. Ajude-o a atravessar com segurança, oferecendo-lhe seu braço. Nunca puxe ou empurre a pessoa cega. Ofereça seu braço, perguntando: “quer atravessar a rua?” E você não precisará estar avisando que vai virar à direita ou à esquerda, que vai descer o meio-fio etc. O deficiente visual perceberá e interpretará todos estes movimentos corporais. Quando você se oferecer de guia para um deficiente visual, não o confunda, cruzando uma rua em diagonal. Isto faz com que ele possa perder a orientação. Efetue um cruzamento em ‘L’; é mais seguro para qualquer pessoa, inclusive para você. Não “siga” o deficiente visual pretendendo evitar-lhe algum problema. O cego, quando anda sozinho, está alerta, com todos os outros sentidos muito aguçados. Ele vai perceber sua constante presença, que terminará por irritá-lo, deixando-o muito nervoso. Quando você estiver no ponto do ônibus e se acercar uma pessoa deficiente visual pedindo-lhe para ser avisada quando chegar sua condução, não deixe de fazê-lo. Mas, se o seu ônibus chegar antes do dela, procure avisar outras pessoas ou, caso não haja mais ninguém além de você e ela própria, aguarde. Lembre-se: ela confiou em você. Nunca empurre ou levante a pessoa cega para ajudá-la a subir para o ônibus. Mostre-lhe onde se encontra a alça externa vertical, e ela subirá sozinha. Dentro do ônibus, o deficiente visual pode não querer sentar-se: não o force a isto. Avise sempre ao deficiente visual quando forem subir ou descer escada. Não é preciso que você conte o número de degraus para ele. Ofereça-lhe o corrimão, colocando sua mão sobre o mesmo ou apenas indicando verbalmente: “o corrimão está à sua esquerda”. Avise-o, também, quando terminar a escada. Se você for construir ou reformar sua casa, procure não colocar obstáculos na calcada, com jardineiras, degraus, lixeiras e, principalmente, portões que abram para fora: estes são perigosíssimos para as pessoas cegas. Procure também não estacionar seu carro ou sua moto na calçada. Não seja responsável por acidentes. Quando você estiver acompanhado de uma pessoa cega e for entrar ou sair de um automóvel, preste muita atenção ao bater a porta do carro. Só o faça quando tiver certeza absoluta de que não vai lhe prender os dedos. Se você conhece um bebê com problemas visuais, oriente sua família para que o levem, o mais rapidamente possível, a uma clínica oftalmológica, escola especializada ou centro de apoio pedagógico. Você sabia que existem milhares de pessoas cegas, no Brasil, que poderiam enxergar? E que por isso, estão na fila do Banco de Olhos, à espera de um doador? Você já pensou em ser um doador de tecidos?
A visão é um órgão que já vem pronto, mas que precisa ser formatado pelo ambiente, que precisa de um cérebro para dar interpretação ao que se vê. Órgão que embora já esteja pronto, precisa do estímulo do ambiente. Por exemplo, na criança a visão é nublada ao nascimento, melhorando até a idade de dois anos. Como lidar com o diferente, com a diversidade? - Trabalho no CEBRAV em cinco frentes de trabalho: 1) na intervenção precoce de bebês cegos e de baixa visão, de zero a três anos, aí inclusa a criança com outro comprometimento, que na maioria das vezes envolve a paralisia cerebral, necessita também de um trabalho de Movimento e Postura, no sentido de diminuir a distância que existe entre as aquisições básicas da criança que enxerga em relação à criança que não enxerga, por exemplo, se uma criança cega anda com um ano e seis meses, se você entrar com a intervenção precoce num trabalho de movimento e postura, esta mesma criança poderá andar com um ano apenas; 2) na educação física da alfabetização e da educação infantil com crianças de 3 a 6 anos, 3) na capacitação de professores da rede que têm alunos com deficiência visual em suas salas, em aulas de orientação e mobilidade; 4) na avaliação motora de todo alunado que chega no CEBRAV; e finalmente 5) na orientação a professores de educação física que trabalham na rede municipal e estadual que por ventura encontrem alguma dificuldade em lidar com a criança cega e com baixa visão em suas aulas. Como isto se processa? Como tenho que fazer avaliação de toda criança que passa pelo CEBRAV, fico sabendo se ela está participando ou não da aula de educação física. Caso não tenha problemas motores e não esteja participando das aulas de educação física, noticio a coordenadora pedagógica do CEBRAV o fato e esta convida a professora ou professor a vir ao CEBRAV. Pergunto o porquê de a criança não estar participando? Se ele (a) professor (a) teve formação na faculdade? Qual sua dificuldade em lidar com o aluno diferente: com a diversidade? Recentemente ao receber uma professora que tinha uma aluna que não participava das aulas de educação física, indaguei o por quê. A todo o momento ela afirmava que a aluna simplesmente não participava porque não queria e que não gostava de brincar: preguiça. Particularmente penso que toda criança gosta de brincar. Depois de orientada em como conduzir suas aulas ainda se encontrava cética de que a aluna não participaria da aula. A solução: fui á escola para mostrar a ela que a criança participaria das brincadeiras. Que criança deve ser tratada como criança. Constatou-se na atitude da professora o medo do diferente. O preconceito representa nossos medos e não necessariamente a falta de aceitação do outro. Pode-se assim entender o preconceito como uma resposta ao medo e a angustia que o desconhecido e o diferente provocam. Como fica nossa formação pedagógica diante da diversidade humana? Nossa formação inicial e continuada está nos dando competência prática para lidar com o diferente, nos diferentes cursos que atuamos? Preparo que nos permita atuar no ensino de forma eficaz, no que diz respeito à diversidade das necessidades educacionais de nossos alunos? A resposta da professora de que a criança não participava da aula porque não queria escondia certo medo do desconhecido, gerando preconceito. Outra questão: Por que a diversidade tem sido tão pouco valorizada na escola? Aqui desejo relatar dois exemplos: 1) Por que não dá Ibope. Porque o diferente não é valorizado em nossa cultura. Vocês já viram uma propaganda de material esportivo, por exemplo, associada a uma deficiência? Mais ainda, porque as pessoas deficientes não valorizam suas próprias potencialidades, tais como a destreza sobre cadeiras de rodas, a capacidade de deslocamento com bengalas ou muletas, ou mesmo, no caso do cego, seu invejável senso de direção. Não fazem isto, porque os “não deficientes” não valorizam ou não utilizam esta destreza ou capacidade em suas relações humanas. Não fazem isto, porque o conceito dominante de educação física voltada para as pessoas consideradas “normais”, não comporta a aptidão física das pessoas que possuem algum tipo de deficiência. O correr, o chutar e o nadar dessas pessoas são diferentes, portanto é outra forma de aptidão física diferente da defendida pela maioria dos professores de educação física. (... o meu sonho); 2) o outro exemplo é um desabafo (...). Mas voltando a questão da não valorização da diversidade na escola. A criança não compete com a outra criança ela coopera. Os estudos de Guralnick provam que criança não tem preconceito com outra criança. Elas respeitam o estilo de aprender da criança diferente. Ela somente deseja saber o que tem que fazer para ajudar a colega: saber como ela funciona. E a questão que fica é: por que não fazemos o mesmo? Por que as crianças atuam com tanta facilidade na zona de desenvolvimento proximal de seus coleguinhas, permitindo a eles transformarem nível de desenvolvimento potencia em real, na medida em que aquilo que elas fazem com ajuda do colega hoje, amanhã fará sozinhas, ao mesmo tempo em que superam os limites de suas incapacidades, e encontramos dificuldade de fazer o mesmo.
Desse modo, penso que a escola que temos necessita de uma postura diferenciada do que tem adotado frente aos alunos com deficiência, que envolva a formação dos professores, os procedimentos de ensino, sua organização e adaptações, observando que se um aluno dito “normal” atinge um determinado nível de desenvolvimento, o aluno deficiente atingirá o mesmo desenvolvimento por outra via. Por exemplo, a Linguagem Brasileira de Sinais para a criança surda, o sistema Braile para a criança cega, a intervenção precoce para as diferentes deficiências a exemplo do trabalho de Movimento e Postura para o paralisado cerebral. O termo “normalidade” reflete a qualidade de uma situação em “que se segue à norma”, e talvez se devesse buscar tal diversidade nas diferentes “normas” que cada um realiza conforme sua própria maneira de agir, sentir e pensar; portanto, a diversidade, também é sinônima de pluralismo compartilhado. Todavia, é evidente que a “norma” escolar não foi pensada e desenvolvida para acolher a diversidade de indivíduos, mas para a integração passiva, para a padronização. Sendo assim, refletir sobre a educação para o futuro pode supor a proposição de modificações significativas da instituição educativa e das relações que nela se produzem. Enfim, dever-se-á abordar com seriedade e reestruturação do processo educativo institucionalizado, frente ao paradigma de integração e da inclusão, lembrando que um novo paradigma para se instalar pede ajuda ao antigo, de acordo com Thomas Kum, no livro Revoluções científicas. Assim, o paradigma da inclusão deverá pedir ajuda ao paradigma da inclusão. Há a necessidade de se romper com o velho paradigma da integração, contudo é sobre os seus escombros que a inclusão se afirmará como um imperativo dos tempos modernos. . Integrar a diversidade é favorecer a convivência de realidades plurais, de necessidades diferentes, que enriqueçam a dinâmica da aula e da instituição. Por exemplo, a dinâmica da aula de educação física para alunos com deficiência: seus princípios metodológicos são 1) o fator segurança, se você deixar uma criança machucar ela não mais vai querer participara da aula; 2) o uso de tutores, isto é, o melhor amigo que auxilia na realização do exercício, atuando na zona de desenvolvimento de seu colega; 3) as regras flexíveis, ou seja, combinadas; e, 4) a adaptação somente quando necessária. Finalizando, propor uma pedagogia da esperança: crítica e multicultural que não impeça a ação, a participação e a cooperação do diferente, quer ele seja pobre, rico, negro, branco, deficiente, eficiente etc. Em suma, uma concepção epistemológica, política e ética que priorize a análise da produção social e histórica das diferenças e igualdades como uma intenção totalizadora. Dito de outro modo, um projeto cultural educativo inacabado com uma produção humanista de emancipação e autonomia (ética da liberdade), bem como de igualdade e de diferença do homem e da sociedade (ética da solidariedade), a partir do respeito e da aceitação do diverso e do inacabado.
REFERÊNCIAS
FARIAS, Gérson Carneiro. Efeitos de um programa de intervenção precoce aplicado a uma criança cega para desenvolver suas aquisições básicas. In: X CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES VISUAIS, 4, 2003, Bento Gonçalves. Efeitos de um programa de intervenção precoce aplicado a uma criança cega para desenvolver suas aquisições básicas. Bento Gonçalves: ABEDEV. 2003, p. 90-98.
IMBERNÓN, Francisco. A educação do século XXI: os desafios do futuro imediato Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
MATURANA, Humberto R. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 2002.